Inezita Barroso

“Se a piaba nada, ieu quero nadar.

Se a andorinha voa, ieu também quero avoar”.

 

Pedacinho da Missão de Pesquisas de Inezita Barroso, de jipe, parada na Bahia rumo à Paraíba.
Um velho com uma vassoura de bruxa canta um canto de capoeira, enquanto o caminhão passa tocando a Rádio Nacional.

Inezita Barroso poderia ser a musa madrinha do  Goma-Laca. Como nós, e muito mais, Inezita é encantada pela música tradicional do Brasil, e não se contenta com o que encontra no rádio e nos discos. Nos anos 50, a menina Ignês não se acanhou em guardar o colar de pérolas na caixinha, e vestir calça comprida e violão para viajar de jipe pelo nordeste do Brasil à procura dos nossos sons. A discografia de Inezita é muito vasta, e até hoje ela nos conta lindas histórias da nossa história no programa Viola Minha Viola  (publicado em 2011 no site goma-laca.com).

A Dona Inezita sempre esteve lá em casa, cantando de manhã bem cedo na TV Cultura, sempre de bom humor, conversando animada com violeiros e pesquisadores de todos os cantos do Brasil. Amorosa, ela canta junto com os entrevistados, com aquela voz poderosa de boi, nosso Caymmi da roça.

Em 2010, durante as pesquisas para o show Goma-Laca vol.I, conheci os primeiros discos da Inezita gravados em 78 rpm e disponíveis no acervo da discoteca Oneyda Alvarenga do Centro Cultural São Paulo. Hipnótica. Aavoz de boi, cinqüenta anos mais moça. O repertório, arrepiante, das cantigas de escravos, capoeiras, lamentos de trabalho, em arranjos instrumentais maravilhosos.

Inezita está próxima, e é possível acompanhar ao vivo gravação do programa Viola Minha Viola no Teatro Franco Zampari. Uma tarde animada, velhinhos de branco dançando na plateia, uma homenagem ao Raul Torres (que foi professor da Inezita), e a jovem Bruna Viola, seguindo os passos da Tia Ignês. Depois da gravação, Inezita foi ao camarim, passou um batom vermelho, arrumou o cabelo, colocou um colar de pedras coloridas e veio conversar comigo.

Contei para ela do Goma-Laca, e levei aquelas antigas gravações para ela escutar e comentar.  A experiência de escutar junto foi arrepiante para ela também. Talvez, o arrepio venha de uma ausência. Aquela sonoridade não cabe nas gavetas em que hoje guardamos a nossa música. Inezita chorou. Muito bom ouvir aquelas músicas com a própria cantora, como se ela ouvisse tudo aquilo pela primeira vez. Inezita é viva, e para ela aquilo tudo parece de outro mundo, instigante, pano para muitas mangas.

Escolhemos Soca-Pilão, tema folclórico paulista gravado pela Inezita Barroso em 1954, para o repertório do show Goma-Laca vol.I, realizado no Centro Cultural São Paulo, alguns meses depois.

Inezita escuta e pergunta: Quem faz essa batucada hoje, hein?

Marcelo Pretto e o grupo Sambanzo responderam assim.

Vídeo de divulgação do show Goma-Laca vol.I, no Centro Cultural São Paulo (nov.2011).